19.12.02
ÚLTIMO DIA DE CÃO
Aconteceu assim: hoje, vindo para o trabalho. Eu, no táxi. Buzinações. E gritos. Ouvimos gritos vindos de um quintal. Há quintais pelo meu caminho paulistano. Os gritos, ali. Em um dos quintais. Gritos animais. Vindos de um inferno particular. Cena surreal et cetera e tal: uma mulher gorda agarrada às patas de um rottweiler. O rottweiler abocanhando o focinho de um basset. Em resumido latido: a mulher gorda gritava agarrada ao traseiro do rottweiler. A empregada da mulher gorda gritava agarrada ao traseiro do basset. E nada do dente do rottweiler soltar o dente esmagado do basset. Ali, idem, um senhor forte socava a cara do rottweiler para ele largar a cara do basset. Nada de golpe baixo. Um soco nos testículos do rottweiler tudo podia resolver. Será quê? Senti calafrio nos testículos. Nunca vi coisa assim, enfim. Fim de basset, sei lá. Percebi meu braço dolorido. Pensei no filho que eu não quero ter abocanhado por um rottweiler que eu não quero ter abocanhando um basset que eu não quero ter. De foder meu início de manhã. De foder de rir. A mulher gorda agarrada às patas de um rottweiler. A calcinha da mulher gorda, ali, para quem quisesse ver.
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