7.1.03
cabeCERA 2
Livro: A maldição do macho
Autor: Nelson de Oliveira Editora Record, 2001
Nelson de Oliveira pode escrever o que ele quiser, creio. Romance, conto, livro infantil, poesia, ensaios et cetera. Não fica punhetando. Vai lá e manda ver. Todas as notas na voz de um cantor, entende? Bom de garganta, sei lá. Ritmo ele tem. E quente. Isso é bom, é do caralho! Mas bem pode ser um perigo. Antes a produção em alto escala do que a punhetação. Eu é que fico vendo nascer cabelo na mão e no umbigo. Dar a cara para bater é melhor do que dar a bunda, não é não? Quem sou eu para julgar predileção? O caso é que Nelson mudou. Acrescentou novidade ao repertório. A ver: putaria, sacanagem, sexo anal, oral, irmã comendo irmão. Embora isso não seja novidade: vide o livro O filho do Crucificado (Ateliê Editorial, 2001). Lá, Nelson já ensaiava a baixaria. É só ler os ótimos contos “O saxofone baixo” e o “Quantos?” (esse, um relato-entrevista, muito antes do silicone e do programa da Monique Evans). Oh, yeah! E não é que aparecem mamilos entumescidos à capa do novo livro? E gravuras duras, eretas lá pelo meio do texto? Definitivamente, esse escritor da comportada cidade de Guaíra, SP, resolveu chutar o pau do barraqueiro. Nunca vi um protagonista trepar tanto, Meu Cristo. Fiquei com complexo de inferioridade, juro. Foi ou não foi bom para você, querido? O romance tem, sim, o estilo do Nelson e pronto. Aquele estilo, sempre digo, próximo e renovado à la Campos de Carvalho. Cortes surreais. Aquele turbilhão de fatos. O personagem em um parágrafo está metido em Londres, noutro em Couro Preto, Minas Gerais. Parece sonho, entende? Daqueles em que a gente acorda melecado. E há uma história de umas gravuras roubadas que eu não consegui entender. Fico desarmado para complicações de enredo. Sou de gozar rápido. A maldição do macho, é bem verdade, não tem aquele vôo que aprecio deveras no trabalho do Nelson. Parece-me que a história o amarrou ao pé da cama dessa vez, não sei. Teria virado, ele, escravo do sexo? Faltou amor ao autor, pode ser, vai ver que é isso. Há quem diga que a “frieza”, característica marcante nas narrativas do Nelson, pode ter ficado, de certa forma, “frígida”. Seria? Maldição de quem, como o protagonista, tem coragem e sabe como gozar da vida.
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