16.1.03
POEMA PORTUGUÊS
Lucinda e madame Palmira
Onde estará / mas onde estará / o chapéu da boneca Lucinda? / aquele chapéu com uma peninha branca / e laços de veludo preto / que madame Palmira / costurou por graça / para a sobrinha da sua cliente dilecta? / madame Palmira começou por ser / ajudante de alfaiate / mas deixou de o ser quando / um cliente / durante uma prova de fraque / fez uma coisa que ela interpretou / como um atentado ao pudor / tornou-se modista de senhoras / mas de uma vez espetou / inadvertidamente / um alfinete num sovaco (o que causou uma infecção / que embora sem gravidade / lhe fez perder a clientela) / foi assim que madame Palmira / se decidiu pelos chapéus / prova-os em manequins italianos / de celulóide / madame Palmira tem um espírito / minucioso / gosta de miniaturas / mas também com a boneca Lucinda / parece não ter sorte / pois o chapéu / sim esse chapéu de peninha branca / e laços de veludo preto / pelos vistos / desapareceu
Adília Lopes, no livro "O Decote da Dama de Espadas".
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