28.2.03
O CARNAVAL DE MANUEL BANDEIRA
Pré-folia, me lembrei do livro de Manuel Bandeira chamado "Carnaval". Foi publicado pela primeira vez em 1919. No "Intinerário de Pasárgada", o poeta, além de justificar o título, comenta alguns dos poemas. Diz ele: "É um livro sem unidade. Sob o pretexto de que no Carnaval todas as fantasias se permitem, admiti na coletânea uns fundos de gaveta, três ou quatro sonetos que não passam de pastiches parnasianos (A Ceia, Menipo, A Morte de Pã e mesmo Verdes Mares, que este até o Pedro Dantas, meu fã número 1, considera imprestável), e isto ao lado das alfinetadas dos Sapos".
Legal ouvir isso do Bandeira. Primeiro, essa mania que a gente tem de esvaziar, jogar em um livro tudo que estiver deitadinho na gaveta. É foda! Segundo, quando ele fala de "unidade". Livro bom não é aquele que é heterogêneo. Quanto mais homogêneo, melhor. Ohhhhh! Outra: livro de poesia nunca deveria ultrapassar os trinta poemas. Isso quem também me falou um dia foi o poeta mato-grossense Manoel de Barros. Enfim. Fica aí o recado, acompanhado de um dos poemas de "Carnaval":
Epílogo
Eu quis um dia, como Schumann, compor
Um Carnaval todo subjetivo:
Um Carnaval em que o só motivo
Fosse o meu próprio ser interior...
Quando o acabei - a diferença que havia!
O de Schumann é um poema cheio de amor,
E de frescura, e de mocidade...
E o meu tinha a morta morta-cor
Da senilidade e da amargura...
- O meu Carnaval sem nenhuma alegria!...
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