26.3.03
CONCERTO BARROCO
Belo belo esse livro do escritor cubano Alejo Carpentier, editado em 1974 pela Editora Brasiliense. Gosto deveras desse livro, da linguagem do Carpentier. Como gosto, idem, da poderosa prosa do curitibano Wilson Bueno e do gaúcho Altair Martins. Falarei deles um dia aqui no blogue. Acompanhe, a seguir, o comecinho do primeiro capítulo desse "Concerto Barroco", enfim.
"De prata as delgadas facas, os finos garfos; de prata os pratos onde uma árvore de prata lavrada na concavidade de suas pratas recolhia o suco dos assados; de prata os pratos fruteiros, de três bandejas redondas, coroadas por uma romã de prata; de prata as jarras de vinho marteladas pelos artesãos de prata; de prata os pratos peixeiros com seu pargo de prata inchado sobre um entrelaçamento de algas; de prata os saleiros, de prata os quebra-nozes, de prata os covilhetes, de prata as colherinhas com adorno de iniciais... E tudo isto ia sendo levado sussurradamente, compassadamente, cuidando para que prata não se chocasse com prata, na direção das abafadas penumbras de caixas de madeira, de cestos à espera, de cofres com fortes ferrolhos, sob a vigilância do Amo que, de bata, só fazia soar prata, de vez em quando, ao urinar magistralmente, com jato certeiro, abundante e percuciente, numa bacineta de prata [...]"
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