17.3.03
PALAVRAS DO SNEGE
"Hoje há muitos senhores engravatados, muitas senhoras colecionadoras de cartões de crédito fazendo literatura. Uma literatura cheia de pudores e ademanes, na qual o narrador se alça às alturas de um ente superior que a tudo contempla. Não mencionam suas hemorródias, suas fixações homoeróticas, suas pequenas e grandes vilezas. Ao contrário de outros autores, como a nossa querida Hilda Hilst, que desce ao rés dos sentidos, mas com uma qualidade de texto realmente exemplar. Eu, particularmente, prefiro os avessos, os desajustados, aqueles que estão sempre indagando de Deus se o homem foi a melhor coisa que Ele conseguiu fazer. [ ... ] Expor as próprias vísceras requer antes de tudo uma grande dose de coragem. Fazê-lo com uma certa ironia, com um certo humor, sem contudo elidir do ser humano sua dimensão sagrada, exige uma imensa dose de amor pela humanidade."
Trecho de entrevista concedida pelo escritor curitibano Jamil Snege
à recém-lançada Et Cetera, revista de literatura & arte. Ele é autor, entre outros,
de "Tempo Sujo", "Os Verões da Grande Leitoa Branca" e "Viver é Prejudicial à Saúde".
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