28.3.03
sE cHOVEREM pÁSSAROS
"5. nossos pássaros de mentira eram a princípio só uma bola de isopor, pequena, passível de ser escondida numa palma de mão fechada. Então o arame ondulava-se em torno, punha-se primeiro em linhas que depois faziam esqueleto e daí forma. Afilava-se o pescoço do pássaro, arredondavam-se cabeça e peito, esticava-se o dorso até a cauda, apontava-se o bico. Logo vinham fitas que circulavam sobre si e sobre si e sobre si, e apertavam as juntas em nós colantes, montando tudo. Estranho: nessa fase em que eram só esqueleto de arame, as estruturas pareciam gaiolas tão justas, que víamos pássaros engaiolados por si mesmos. Tornou-se fato que um pássaro preso começa a ser imitado pelo fim: a gaiola que o envolve."
Trecho do conto "sE cHOVEREM pÁSSAROS" (escrito assim mesmo), extraído do livro homônimo de Altair Martins (veja comentário sobre o autor mais à frente, no texto intitulado "Um Escritor Trimassa".
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