1.4.03
MORTE BRANCA
Encontrei por esses dias um livro do José Cardoso Pires. E estava autografado por ele. Ohhhhh! Tanto que gosto deste escritor português. Quase morri. Por falar nisso, comecei a gostar dele quando soube da "morte branca" que ele sofreu. Explico: um grupo de neurônios deste escritor "ficou subitamente privado, em parte, do oxigênio para respirar e do açúcar para se alimentar porque um minúsculo coágulo de sangue se desprendera e entupira a artéria que conduz o sangue ao cérebro. Isso obrigou uma parte do organismo - no caso, uma célula nervosa - a criar uma membrana que entrou em estado de hibernação protetora. Essa cápsula de proteção poderia durar até a recuperação do paciente ou até a sua morte. José Cardoso Pires perdeu a quase totalidade da memória e se viu vivendo como se fosse uma terceira pessoa observando a si mesmo. Tudo como um sonho fascinante e terrível no qual os objetos mais elementares deixam de ser o que são e ganham novos nomes e serventias". Enfim. Tal explicação eu retirei da orelha do "De Profundis - Valsa Lenta", onde o autor do magnífico "Balada da Praia dos Cães" (foi esse o livro que encontrei no sebo, publicado em 1982) conta essa sua experiência. Cheia de poesia e ciência. Cardoso Pires veio morrer um ano depois de publicar o livro. Desta vez, porém, a cor da morte talvez tenha sido um pouco mais escura.
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