14.9.04
PUTAQUEUPARIU!!!
(desculpe a falta de jeito. longe de querer lhe ofender ou ofender a senhora sua mãe. mas foi a primeira expressão que me veio à cabeça e a que melhor descreve sentimento indescrítivel do tipo você viu qualquer coisa duca... quando você falou que a peça era bacana, eu pensei imparcial, né? eu imaginei que seria muito interessante, mas ainda duvidei que a galera iria transformar aquelas (o angu) palavras em sangue. e agora sou eu que não sei como transformar este sangue em palavras. eu já tinha lido o angu de sangue. um tempo atrás. ainda não li o baléralé, mas certamente será minha próxima aquisição. fui na peça no sábado. saí de lá chocado e embasbacado ao mesmo tempo. como é lindo e intenso e fantástico, ao mesmo tempo que triste e real. confesso que o angu de sangue não é muito fácil de engolir. não é nada para se aplaudir, mas eu não pude me conter. então eu fui à peça com aquela impressão: são raros os casos em que as montagens chegam aos pés dos livros. aí estava na primeira ali na babadopalco bebendo do cuspe dos atores. então já tem dois elementos negativos. fiquei meio em choque na cadeira e não digeri direito de primeira. mas já tinha uma certeza na cabeça. não que o texto ou a peça fosse melhor. mas eram dois caminhos diferentes. ambos maravilhosos. ambos sinceros. ambos viscerais e ao mesmo tempo de intenso trabalho intelectual. fiquei meio confuso. no domingão, reli o livro todinho. num fôlego só. quando passava o texto quase via os atores falando. foi uma sensação muito intensa. vi o texto por uma outra visão. mas não uma visão viciada. uma visão minha mas através da lente dos atores. senti desejo de ir ver a peça de novo no domingão. (eu não ia perder meu domingo vendo videocacetadas). e acabei tomando uma cacetada novamente. a peça que tinha me tirado o sono. me divertira até certo ponto. mais aberto, consegui ver as nuances do sofrimento. esta relação da dor e da alegria que é essa nossa vida. este lance de apanhar dos mesmos que nos beijam. um amor meio elisa, meio assaltante. acho que passou a fazer mais sentido. muito mais. resultado: cheguei em casa e fui reler o livro. e constatei que os caras não tinham mudado uma vírgula. o texto estava na íntegra. aquela cara de depoimento estava ali latente. plena. quase me encontraram amarelo engasgado em meu próprio vômito. com uma overdose de angu de sangue. (eu só não almocei angu hoje e nem doei sangue). nem preciso dizer como foi intensa esta relação. este fim de semana recluso. excluído do mundo e em pleno contato com ele, em plena harmonia com esta exclusão. minha e daquelas almas que sofrem um pouquinho mais que eu. estou louco para ler o balé. p.s. você já assistiu dogville e dançando no escuro? eu saí da peça com a sensação próxima ao que tive quando assisti a estes filmes. aquela admiração e revolta contra os autores daquela peça. aquilo não é bonito e ao mesmo tempo pode ser. depende de quem canaliza. para o mal ou para o bem. pra fechar com má educação. DUCARALHO a sensação que o ANGU DE SANGUE (nas suas duas formas) me proporcionou. DUCARALHO MESMO. p.s.s. (desculpe também o tamanho do e-mail. foi meio visceral e do jeito que saiu eu não consegui cortar nada). abraço. daniel minchoni. ex-istencia.weblogger.com.br.
[ Mensagem recebida de Natal, RN, onde a montagem recifense de
"Angu de Sangue" foi apresentada neste fim de semana. A peça ainda percorrerá as cidades de Salvador, Sergipe e Fortaleza. Em novembro, chega a Sampa ]
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