7.10.04
O TELHADO E O VIOLINISTA
- Judia suja.
Eu, que nunca havia experimentado a sério ser quem era - porque uma menina de nove anos apenas tem nove anos -, passei, de uma hora para a outra, a ser judia e a ser também suja - o ódio na boca de Paula fazia com que as duas palavras se equivalessem. Fiquei ali, parada, paradinha, olhando para a menina, que, subitamente, se tornara dona de uma voz tão impositiva que se assemelhava à verdade. Sem sabermos, ela ou eu, obedeciam-se a velhas tradições - era um conhecimento com que os ruins já nascem. O ódio cintilando a ponto de zunir no miolo dos olhos negros, Paula repetiu a ofensa, arrastando-a escandida:
ju-di-a-su-ja.
[ Trecho do conto "O telhado e o violinista",
que abre o livro "Arquitetura do Arco-Íris",
a ser lançado daqui a pouquinho,
na Casa do Saber, pela editora Record ]
|