12.11.04
TRECHO DA PELEJA
No sertão, via de regra,
Forasteiro é valentão.
Vai o cego aonde estão
Seus rivais, e ali se integra
Ao povão, que mais se alegra
Vendo como o cabra arrosta
Qualquer desafio e aposta:
Só pra ter seu nome inscrito
Na lenda de autor maldito,
Bebe mijo e come bosta.
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Mas não falo de Aderaldo,
Zebedeu ou Mangabeira
E outros astros da cegueira
Que têm positivo saldo:
A bandeira que desfraldo
Nesta saga inusitada
É de alguém que não tem nada
De herói, forte ou vencedor
Que mereça honra ou louvor,
Mas sim de quem se degrada:
Sem escrúpulo ou pudor,
Falo dum que foi cobaia
Dos cabras da pior laia
Mas disso folga em depor!
Faz ele praça da dor
Que sente, enquanto dá gozo,
Mais que um Tiririca ou Bozo,
Aos dispostos a zoá-lo!
O ceguinho de quem falo
Se chama Glauco Mattoso.
| "Peleja do Ceguinho Glauco
com Zezão Pezão" - Glauco Mattoso,
Editora Aboio, PB, 2004 |
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