23.5.05
HISTORINHA POLICIAL
Sabe com quem você está falando? Hein, sabe? Já leu meus livros? Hã? Já me viu no jornal? Na televisão? Hein? No Estadão? Escute só. Eu não sou ladrão. Repito: não sou ladrão. Não e não. Acha que eu preciso disso? Roubar livro? No flagrante? Ficou sem juízo? Tenho eu cara de delinqüente? Tenho, me diga. De reincidente? Por favor, chame o gerente da livraria. O gerente. A polícia. Isso, a polícia. E a imprensa. Agora mais essa. Acha que vale a pena essa amolação? Tamanha humilhação? Em que país estamos? O que você pensa? Um escritor ser tratado desse jeito? É o fim. Logo eu, roubar um colega. Um companheiro de literatura. Na maior cara dura. Não, nunca. Ora, tenha a santa paciência. Eu não roubei livro nenhum. Hum, hein? Passar bem, eu vou é me embora. Embora. Não, não tiro o meu casaco. O quê? Não abro a minha sacola. Eu sou um escritor. Nunca mais piso nesta loja. Pô! Que horror! Pergunte então ao meu leitor. Isso, ao meu leitor. Esse que está me lendo agora. Por acaso eu sou algum ladrão? Responda, caro leitor. Faça alguma coisa. Sou? Que confusão! Nisso que dá misturar realidade e ficção.
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