14.5.07
NO MESMO PALCO
Não há nada que me deixe mais infeliz do que a morte de um ator, o desaparecimento de uma atriz. Porque eu vou junto. Cerro as cortinas idem e lembro: de quando eu queria ser ator, meu sonho maior desde pequeno. Eu queria essa eternidade, entende? Inventar uma realidade, sei lá. Um mundo menos doente, enfim. Quando uma estrela se vai, lembro do que morreu em mim. Penso em Ilza Cavalcanti, minha diretora antiga. Minha mestre querida. Doente e perdida que ficou pelo corredor de um hospital, no Recife. Sem socorro e sem glamour. Ilza foi a minha luz. Ainda é a minha luz, infinita. Ela quem me ensinou a palavra, a paixão pela ribalta. Deu-me dicção e amor. Quando morre um ator, uma atriz eu perco o brilho, pô! E o sentido. Dá-me um branco no peito. Lembro do amigo e companheiro Ronaldo. Éramos dois palhaços. A dupla que fazia sucesso no teatro amador da escola Professor Alfredo Freyre. De repente, veio a notícia. Ronaldo foi à praia e não voltou. Puxou pela respiração nas águas de Boa Viagem. E vem-me sempre essa imagem quando um ator se vai. Repito: quando uma estrela nos deixa. A cena fica muda. E a vida sem beleza. Em tempo: daqui a pouco, subirei ao palco abrindo o Letras em Cena. Estarão lá Antonio Petri e Luiz Valcazaras e Patrícia Gaspar e Sérgio Roveri e Vera Mancini. E pensarei em você, Marisa. Aquelabraço e fui e até um dia.
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