20.9.07
PARTE DA TROPA
Eta danado! Gosto quando vejo um artista como José Padilha soltar os cachorros do peito e maravilha! Ele, diretor do truculento Ônibus 174 e agora deste Tropa de Elite. Disse ele à Folha de hoje: "para mudar essa realidade, o Brasil tem que crescer 5% ao ano durante um prazo grande, a renda tem que ser distribuída, deve haver investimento em educação, o governo tem que ter superávit fiscal para investir direito nas polícias ou tem que discutir a legislação relativa às drogas. É uma situação tão complicada que é irreal imaginar que o meu filme possa fazer alguma diferença". E olhe que ele está falando de um filme. Assistido (em sua versão pirata ou não) por um montão de gente. O que dizer, então, de um livro? De um autor contemporâneo e tenho ditO? Escuto sempre escritor bravejando isso: que escreve para salvar o mundo, para melhorar a sociedade. Ave! Paulo Lins, na FLIP, já havia falado contra essa corrente, me lembro: "livro não salva ninguém. Quem salva é dinheiro, saúde, educação", saravá, amém. Mas, por que é que eu estou aqui discursando acerca deste assunto? Nem sei bem. A verdade é que, em várias debates, sempre nos perguntam. E eu sigo afirmando: não sou igreja para prometer salvação. Isso é picaretagem, meu irmão. E a platéia vai além: "por que vocês, novos autores, só escrevem sobre violência?". E eu respondo que não escrevo sobre violência, "escrevo sob violência". Ora, ora. Creio, seja por essa razão, que compactuo com o Padilha. E, idem, por exemplo, com o Cláudio Assis e o seu Baixio das Bestas. E por aí vamos. Outra mais do José Padilha, antes de eu ir embora: "cinema é uma forma de expressão livre e me incomoda a crítica que queira normatizá-lo. Não pode fazer filme que tenha tortura. Por quê?". A mesma coisa nos acusam: "não está na hora de mudar o registro? Para que tanto sangue nas letras?". Porra! Cada um que siga a sua tropa e beleza! Eu, de minha parte, fui. Deixando as minhas boas-vindas ao novo filme do Padilha, que eu ainda não vi. Com exibição, logo mais à noite, no Fesitval do Rio, e estréia nacional prevista para o dia 12 de outubro. Em tempo: aproveito para reavisar que daqui a pouquinho, às 19h30, no SESC Consolação, converso com a tropa toda do Sarau do Binho, que movimenta a cena literária lá em Campo Limpo. Té e aquelabração.
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