12.12.07
VELHO É O ESPELHO
Ela apareceu com os poemas em um caderno. Manuscritos. "Só escrevo sobre velhas". Caquéticas. Vadiosas rosas murchas. Algo assim. E aí a gente foi confabulando. Primeiro: digitar os poemas. Depois, fazer uma triagem. E fomos que fomos. Resultado: o livro de estréia de Maria de Lourdes Ferreira Alves, batizado de Velho É o Espelho, acabou de ser publicado pela Ateliê Editorial. Ela, uma das que fizeram a minha oficina este ano no Centro Cultural b_arco. Leia duas de suas poesias. Novíssima poeta à vista, salve, salve, amém, saravá e viva!
[1]
já cheguei a pensar em comprar um boneco de ventríloquo
não os de tamanho diminuto
alguém para conversar falar amenidades
porque na minha idade fofoca é ponto morto
já dei o que falar
[2]
com as duas mãos espalmadas para o espelho puxou para trás, ao mesmo tempo, lados direito e esquerdo da mesma máscara
o espelho mostrou-lhe, então uma cútis lisa com um sorriso permanente de passagem próximo da juventude subutilizada
lembrou-se de todos os seus amores loucos imagens parcialmente fundidas na memória enrigecida
por fim, os braços cansaram-se
o tecido, imediatamente reconquistou o lugar que lhe era de direito deixou que o real se incorporasse
olhou para o espelho muda não repetiria aquele ato ilusório, jurou
a fotografia do agora era, também, parte sua uma máscara perpétua de metamorfoses sempre à mercê do tempo
fixa, só a moldura
|