14.3.08
A VIÚVA DO HOMEM DA CARROÇA
A Mulher sente falta do piolho do Homem. Da porquidão do Homem. Da repugnância. Sente falta da frieira do Homem. Do bicho do Homem. Da putrilagem. Incomensurável falta. Do contágio do Homem. Das exalações do Homem. Do abafo. Nodoamento, podricalho. Do esqualor do Homem. Da sebentice sente falta. Caca. Da poluição do Homem. Denigrição. Putrescência. Caspa. Sente falta do muco. Da langanha. Do pingão. Da teia de aranha. Saudade de tirar sujidades dele. Lavar, descaquejar, escovar. Deixá-lo nítido, não ascoso. Suave, não lodoso. Asseado, não estrumoso. O marido perfeito e invejável. Trabalhador. Porejado de saúde. Curado. O marido válido. Belo e bem constituído. Corado. Longe da languidez e do horror. Longe do achaque. Da pestilência e da enfermidade. O Homem sem lombriga e inchaço. O Homem sem mal bruto. Sem carcinoma e sem chaga. Morféia e quebradura. Deixar de ser a morte em pé. De andar por arames. De levar sustos. Fora o Homem cataplasmado. Xô o Homem empapuçado. Triquinado, morfético, rua. Só o Homem em desenvolvimento. O Homem remodelado. Próspero. Extirpado dos abusos. Para sempre. Homem futuro. Homem, assim, que faz falta. Quando viaja. Quando não vem. Quando não volta. Puxando, feito uma barata, a sua carroça.
[ Texto meu, antigo e perdido, que eu resolvi postar hoje, aqui. Talvez, enfim, para homenagear a todos os poetas que eu admiro. Aqueles que eu gostaria de ser. E + não digO. Até segunda, aquelabraço e beijos na bunda. Fui ].
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