7.4.08
GIOVANNI
Li este romance de James Baldwin ainda no Recife. Numa edição da Editora Abril, creio. E aconteceu, à época, que bati o olho no primeiro parágrafo e segui estonteado/entontecido até o fim. Dessa história de amor trágica. Sombria. A homossexualidade e a marginalidade vistas por este autor negro, norte-americano, transgressor e por aí vamos. Explico: acabou de sair uma nova edição do livro pela editora Novo Século (tradução de Affonso Blacheyre). E não é que caí de queixo de novo na leitura? Da mesma forma que outrora. Oh! Hipnotizado pela linguagem e ritmo que — saravá, amém — não envelheceram. Deve ser a minha idade nova. Com ela ando descobrindo outras pastagens. Entrelinhas. Paisagens apocalípticas de Paris, onde a trama se passa. Belamente narrada e mais não digO. Seguem as primeiras palavras do romance, abaixo. Se eu fosse você, iria adiante, à primeira livraria. Fica a dica. Aquelabraço e por hoje é só e até a próxima vista. Fui.
Aqui estou, em pé diante da janela deste casarão no sul da França enquanto chega a noite, essa noite que me arrasta ao pior de todos os amanheceres de minha vida. Tenho um copo na mão, uma garrafa encostada ao cotovelo. Observo meu reflexo no brilho mortiço da vidraça, e vejo que meu vulto é alto, talvez bem parecido ao de uma flecha, e meu cabelo louro também brilha um pouco. O meu rosto é igual a rostos que já foram vistos muitas vezes, em numerosos lugares. Meus antepassados conquistaram um continente, atravessando planícies habitadas pela morte, até chegarem a um oceano que ficava para o lado oposto ao da Europa, voltando-se para um passado mais sombrio. Quando amanhecer talvez eu esteja bêbado, mas de nada isso adiantará. De qualquer modo, bêbado ou não, tomarei o trem para Paris.
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