10.7.08
BOSSAS
E ele tocava saxofone. Adolescentes que éramos, no Recife. Eu ainda não havia prestado atenção na bossa, no banco e no violão. Na minha casa, sanfonava Gonzagão. E os discos de Roberto. E uma ou outra descoberta. Que eu mesmo fazia. Por um milagre, em meio à paixão que meus irmãos tinham por Fagner e Vanussa e Wanderlea, eu conhecia Nana Caymmi. E eu colocava para girar Paco de Lucia. Este, devido a uma obsessão antiga, minha. Pela Espanha. Desde pequeno, não sei. Talvez porque meu nome veio do filme Marcelino, Pão e Vinho, com Pablito Calvo. Mas voltemos ao sax. O nome do meu amigo: Renato. Ele tinha uma coleção de coisas que nunca ouvi. Stan Getz, por exemplo. Ao lado de Tom & João Gilberto. E ainda tinha Stephane Graphelli. E outras figuras: Joan Baez. E ouvi, idem, à sua casa, pela primeira vez, Bob Dylan. Mas por que eu estou dizendo isto? Porque voltou-me à cabeça o som à beira do bairro-abismo de Água Fria, onde morávamos. E passávamos um tempão. Dedilhando os nossos papos. Eu mostrando para ele os versos de Garcia Lorca. As putarias de Genet. Você precisa conhecer Graciliano Ramos. E a poesia de Bandeira e de Cabral. E, ele, a soprar as sonoras letras de Vinicius. E maracatus outros que, nos 50 anos da bossa, me chegam à memória. Não sei se mais tão cheios de graça. Talvez pela forçação de barra. Essa coisa hoje meio Takai. Ai, ai. Inútil paisagem. Este passado, desafinado, ao cair da tarde.
|