13.10.08
DOIS COMEÇOS
I
Se enxergasse no escuro, Adorno veria os dois olhos vermelhos do rato. Os pêlos do focinho experimentariam o ambiente, e o rato faria o simples: com oito patas, deslizaria rente à parede da janela do quarto, pararia junto a um pilar de madeira, escutaria perigos e seguiria para uma nova parede onde cheiros o fariam erguer levemente a cabeça e provar o ar. E seria nesse momento que, se pudesse ver no escuro, Adorno levantaria os olhos muito acima do rato e veria no relógio da parede, na imagem do Cristo, que estava atrasado. Sem ser notado, o rato escorreu para dentro de um buraco mínimo do assoalho, num canto à esquerda da cabeceira da cama.
[ Este, do romance de estréia do fera que é o gaúcho Altair Martins. Autor de contos fenomenais, etc. e tais. O livro: "A Parede no Escuro". Acabou de sair pela Editora Record e saravá! ]
II
Apesar das dietas rigorosas, do constante esforço para ir à hidroginástica, e do longo percurso diário das caminhadas, meu corpo faliu. Nada mais dá jeito nele. Foi-se, à medida que as primaveras se cumpriam. Agora só o reencontro nas fotografias. O único consolo é que aquela moça fui eu. Mas a minha alma permanece intocável. Uma orquídea de estufa, viçosa e bela. Trago-a tinindo, no mais absoluto frescor...
- Falando sozinha, mamãe? - Há muitos anos.
[ E este, de mais um romance da grande Livia Garcia-Roza. O tonto e estonteante "Milamor", idem pela Record e vamos que vamos. Comprem os dois livros e mais não digO. Aquelabraço e até amanhã e beijos no umbigO. Fui ]
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