28.1.09
MEU BAIÃO NO RECIFE
E hoje saiu uma matéria no Jornal do Commercio do Recife sobre a minha novelinha. Sabe? Aquela publicada on-line pela Editora Mojo Books. Diz Schneider Carpegianne sobre ela: "a grande revelação de É Só Isso o Meu Baião é que o universo por nocaute de Marcelino também se adequa aos trejeitos de uma narrativa mais longa — ou essa é uma narrativa longa que se "adequou" a Marcelino? Seus contos são quase telepáticos, com os personagens dizendo muito ao falarem pouco. Estaria nascendo o primeiro romance?". Dou, lá, algumas explicações sobre o "som" que me inspirou: "O disco do João Gilberto e do Stan Getz foi fundamental para mim. Quando eu morava no Recife, adolescente, um amigo, igualmente jovem, chamado Renato Siqueira, tocava saxofone e entendia tudo de bons discos. Ele quem me mostrou o banquinho do João. Eu, que tinha o ouvido tão acostumado a Gonzagão e a baiões outros, sofri um choque. Sem contar que esse Renato veio morar em São Paulo e eu vim a convite dele. O livro da Mojo é dedicado ao Renato. De alguma forma, vivemos algo parecido. Eu, meio cangaceiro, e ele mais 'bandeirante', entende? Nós vivemos uma história meio 'desafinada', digamos". Leia trechos abaixo. E, se for o caso, baixe o livro clicando aqui em cima e até amanhã e aquelabraço.
Na primeira vez que a vi passar a minha vontade era gritar: cachorra, vagaba, piranha. Gritar gostosa, deliciosa, pega aqui no meu peru. Perua oxigenada. Puta safada. Dizer assim: vem lá em casa, no meu barraco. Essa menina dá caldo, dá canja, dá barato. Potranca. Dança, rebola, balança. Na boquinha da garrafa. Vem, perversa. Vem, assassina. Cínica. Exibida. Metida que ela era, nem olha para minha cara. A caminho do mar. Séria. Isso não vai ficar assim, sua mocréia.
Na segunda vez, quis sequestrá-la. Jogá-la em um porta-malas. Ia ao aterro, a uma mata fechada, descer a sua calça, lamber as suas tetas. Sua vaca. Nada, nada. Ela continua cega, a caminho do mar. Minha vontade era: afogar, quintar, trucidar, malferir. Cometer morticínio, extermínio. Ser o teu algoz, verdugo, carnífice marinho. Eu, tão triste. E tão sozinho. Continuava ali a ver navios. Puta que pariu.
Resolvi chegar junto: oi. Mas a minha vontade era: dar um tapa na fuça. Sua quenga. Agarrar pelos cabelos. Molhados. Enforcá-la na canga. Pisoteá-la com o guarda-sol. Chafurdá-la na areia de Copacabana ou de Ipanema. Sem nenhuma palavra, sem puxar conversa. Para que ouvir sua voz, ora essa? De bruxa, feiticeira. Maga, cobra coral, sereia. A urna te espera. A terra da verdade. Fria. O sagrado cemitério. A cova anônima. A gólcota. In memoriam o meu amor. Quando ela, olhando para os meus batimentos, falou: oi.
E me mandou sentar e eu sentei. Mas a minha vontade era: deitar, sossegar, sucumbir, dormir até altas horas. Era: parar a roda do mundo. Atirar em quem viesse atrapalhar. O nosso descanso à beira-mar. O nosso castelo. Ah! Acertaria no cérebro do tiozinho do picolé. No pé do vendedor de siri. Castanha. Esganaria tudo o que fosse criança, pivete. Sem pai. Sangraria cachorro solto. Derrubaria ultraleve. Até salva-vidas eu mataria. Só para ela ver que eu não era mole. Comigo não tinha essa de poesia. De beleza. Era preciso que ela, desde já, soubesse: que eu não estava para brincadeira.
Em tempo: por falar no Recife, viajarei para lá nesta sexta e beleza! Prestigiarei, entre outras coisas, mais uma apresentação do espetáculo RASIF - Mar que Arrebenta. Outras informações aqui. E ainda: hoje à noite, no Rio, o incansável Paulo Scott está à frente de mais um dos seus imperdíveis eventos. Clique aqui para saber e agora fui de vez e té.
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