5.3.09
DOIS MESTRES
— Um na prosa:
Que não faz tempo que descobri. Uns dez anos atrás. Como bem contei em artigo que assinei no Estadão do domingo passado. Falo do grande Campos de Carvalho, cujos romances estão agora sendo relançados, em volumes separados, pela José Olympio Editora. No texto, revelei, entre outras coisas, um presente que ganhei do Nelson de Oliveira: "a primeira edição do romance Água Viva, de Clarice Lispector, autografada por ela, assim, em letras tremidas: A Campos de Carvalho — que teve a delicadeza de apanhar no chão um parafuso". Preciso dizer mais alguma coisa? E tenho ditO.
— Outro na poesia:
Que não faz tempo que descobri. Uns meses atrás. Quem me apresentou foram dois amigos paraenses: Élida Lima e Rodrigo Barata. Quanto atraso o meu! Nunca é tarde para a boa palavra. Falo, assim, da poesia do Max Martins. Que morreu no mês passado, aos 83 anos, lá em Belém. Escreveu vários livros e sempre viveu como poeta, labutando, isolado, e mais não digO. Segue um dos poemas dele, abaixo. E por hoje é só. E fui e aquelabraço.
Já então é tudo pedra os dias, os desenganos. Rios secaram neste rosto, casca de barro, areia causticante. E onde outrora o mar — os olhos — búzios esburacados.
E tudo é duro e seco e oco, o sexo enlouquecido. 0 osso agudo coberto de pó e de silêncios.
Havia uma ferida, a primavera que já não arde nem desfibra — seca a flor amarela escura anêmica impura — rato no deserto.
Caveira de pássaro exposta na planura.
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