19.5.09
LOBO ANTUNES E EU
— Sabes que estou indo ao Brasil?
— Sei, sim, à FLIP.
— Pois é. Mas quase que eu desisto de ir.
— Por quê?
— Estourou-me uma hérnia.
— Eta danado!
— Estou a usar uma tela.
— Você vai a Passo Fundo também, não?
— Onde?
— A Passo Fundo, no Rio Grande do Sul.
— Adoro o Rio Grande do Sul, mas não vai dar.
— Que pena!
— Duas viagens assim cansam e não estou lá muito bem.
— Seu avô era brasileiro, não era?
— Sim, de Belém do Pará.
— E seu pai?
— Meu pai foi o primeiro português da família.
— Você morou no Brasil, não foi?
— Morei em Belém, no Rio.
— Ainda tem família no Brasil?
— Lá no Rio.
— E o seu novo romance?
— Sai em outubro.
— E o seu derradeiro romance, esse que ainda está escrevendo?
— Meu derradeiro mesmo. Tem me animado. É em terceira pessoa e estou no terceiro capítulo.
— Tem muita gente que gosta de você no Brasil, sabe?
— Lá eu conheço o João Ubaldo.
— Quem me apresentou a sua obra foi o escritor Evandro Affonso Ferreira.
— Não conheço.
— Ele tinha um sebo e vivia indicando livro seu.
— Quero conhecê-lo. E tu escreves o quê?
— Contos.
— Contos?
— Contos.
— Não te aventuras no romance?
— Não tenho fôlego.
— O quê?
— Fôlego.
— Ah! É o que eu mais tenho. Mas vou parar logo, logo.
— Vai fazer falta.
— Mas tem muito livro meu por aí... É só reler a todos.
— ...
— ...
— Saiba, António, que é uma grande honra para mim estar aqui, ao seu lado.
— A honra é toda minha. A gente se vê em Paraty?
— A gente se vê, com certeza.
— Leve o Evandro.
— Levo, sim.
[ Este rápido diálogo entre mim e o grande António Lobo Antunes aconteceu durante a Feira do Livro de Lisboa. E esta é só a primeira parte de uma série de novidades e notícias que postarei durante esta semana. Para ver uma foto deste encontro, clique aqui em cima. E por hoje é só e por enquanto. E beijos no umbigO e vamos que vamos. Fui. ]
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