2.3.10
NO OLHO DA RUA
O pacote chegou ontem. O Olho da Rua. Ã minha porta. Abri o envelope. Bem que eles disseram que mandariam. Tudo sobre o espetáculo que fizeram em Ouro Preto, Minas. O Grupo Ossanha. Tamanha curiosidade. Ave! Botei para rodar o DVD. Puta que pariu! Alguns de meus contos lá. Impactantes. Digo assim: os atores. Marginais de macacões. Torturadores. Cristo meu! Tipo um filme de suspense. Eletrizante. Explico: quinze pessoas apenas assistem à encenação. Sete delas vão de van. São "sequestradas". Viajam 7 quilômetros até uma fábrica abandonada. Lá, entram em obscuros corredores. Ouvem, vendados, monólogos gritantes. Já vi várias inesquecíveis interpretações, por exemplo, para o meu conto Muribeca. Mas essa dá febre. Há sons de máquinas trituradoras. Porra! E os atores? Quão assustadores! Repito: fiquei com medo de mim mesmo. Lírica diabólica. Exconjuro! O grupo criou o Teatro Documentário. Chama-se assim a experiência. Que pretende tomar outros cantos do Brasil. De assalto. Ave nossa! E aí veio ã minha mente, agora. Do tempo em que eu quis ser ator. Aos nove anos, ainda no Recife. Sim, muito pequeno. Comecei escrevendo para teatro. A professora era Ilza Cavalcanti, que resgatou tanta gente da periferia. Para a vida artística. Foi ela idem quem primeiro me olhou. Arrastou-me pela mão. Grande mestre! E aí fiquei sempre com esse sonho. Pendurado. De subir aos palcos. Quando escrevo, subo aos palcos. Falo em voz alta a minha fala. Penso em luzes sobre as cabeças, acesas de meus personagens. Que emoção! Que beleza! Digo para mim mesmo: agradeça. Tantos atores maravilhosos que, por aí afora, têm entendido este meu lado dramático. Nervoso. Vexaminoso. Listaria, sem demora, talentos infinitos. Que têm me presenteado com isto. O além-livro. Que têm dado grito aos meus escritos. Em temporadas gloriosas. Salve, salve. Saravá, amém! Um beijo no coração de cada um desses artistas. Estou aqui, ainda, tomado de susto, amigos. Juro. Fiquem ligados neste grupo. Ossanha nas alturas. Essa peça ainda vai dar muito o que falar. É espantosa a direção de Marcelo Costa. O conjunto da obra. Cínica e cênica. Feita de olho na rua, pois é. É de lá que também procuro forças. Para a minha literatura. E mais não digO. E valeu e fui e beijos esquizofrênicos no umbigO. E té.
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