10.5.10
EU NA LAVANDERIA
- Grande escritor! - Obrigado. - É um prazer. - Obrigado, obrigado. - Grande escritor, grande escritor! - Obrigado. - Você vem sempre aqui? - Sim, moro aqui do lado. - Está sem empregada? - Não tenho empregada. - Não tem empregada? - Não. - E quem cuida da criança? - Hã? - Da roupa da criança? - Hã? - Vi você no Festival da Mantiqueira. - Sim. - O menino deve estar grande, não? - O menino? - Sim, Milton, seu filho. - Milton, meu filho? - Você é Hatoum, não é? - Hatoum? - Sim, Milton Hatoum? - Eu sou. - Então... Seu filho é uma graça! - Obrigado, obrigado. - Deve ter muita roupa suja aí, não? - Muita. Criança, você sabe, é aquela bagunça. - Li todos os seus livros. - Obrigado. - Grande escritor, grande escritor! - Muito obrigado. - Você mora onde aqui na Vila? - Na Rua Purpurina. - Bonito o nome da rua, não é? - Bonito, sim. - Todos os nomes da Vila, bonitos, não? - Sim, sim. - Quem sabe um dia Purpurina não vire Milton Hatoum? - Que é isso? - Claro... - Gosto do nome Purpurina. - Eu também, mas... - Sem contar que mora um outro escritor na mesma rua. - É? - E ia ficar chato, entende? - Entendo. - Marcelino Freire, conhece? - Marcelino? - Marcelino Freire. - Assim, de cabeça, não lembro. - Um meio careca, de cabelos brancos, encaracolados... - Ah! Sei, sim, um senhor. - Mais velho do que eu. - Acho que já trombei com ele por aqui. - Grande escritor, grande escritor!
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