22.6.10
DOIS IRMÃOS, DOIS POETAS
Um eu conheci no ano 2000. Lembro: já tinha olho de poeta. Jeito destrambelhado. Alma aérea e firme. E, sobretudo, humor. Amor. Ave! Falo do irmão Carpinejar. Coleciono tantas histórias com ele. Tantas mesas (de palestra e cerveja) que dividimos. Telefonemas. Trocamos muitas linhas. Quando eu estou em casa e ele me telefona. Corro para a pia. Para lavar um prato. Mania. De deixar escorrer. De limpar. De oxigenar. Esse primeiro poeta é assim: o que é. Uma das figuras mais generosas que conheço. Idem na poesia. Devota-se ao leitor. Arrisca-se em abismos. Altos. Para trazer de lá uma palavra. Uma flor. Ora. O outro eu conheci em 2004, por aí. Também em Porto Alegre. Jovem, veio à minha primeira oficina. Mostrou uns versos. Românticos. Quando não é alguém se beijando, é alguém se matando. Depois, nos reencontramos em festas. Gaúchas. Bom de copo o cabra! E fazia tempo que dizia que estrearia e nunca estreava. Agora estreou. Nome do livro: Os Dentes da Delicadeza. Editora: Não Editora. O autor: Everton Behenck. Veio para ficar. Assim como já está o Carpinejar. Há tempo, na estrada. Ambos têm a mesma pegada. Poesia simples. Derramada na medida certa. Desmedida e sincera. Uma voz em festa. Sei lá. Não é à toa que quem assina a orelha do livro do Behenck é o Carpinejar. Que reconhece no amigo a grandeza do Vinícius. Sem exagero. Everton chega certeiro. No seu ritmo conquistador. Nos seus cortes. Como quem polda. Uma rosa ou uma ferida. Com uma tesoura só. Rara e afiada. Que maravilha de palavra! A desses dois queridos amigos e irmãos. O meu beijo no coração. E fui. Não sem antes avisar, atenção: nesta quinta à noite, no b_arco, Carpinejar lançará mais um volume de crônicas, o Mulher Perdigueira. Todos lá. E ah! Abaixo, leia um dos poemas do livro do Everton. E valeu e fui e salve, salve, amém e saravá!
Deve haver Algo de doce
Nessa tortura Íntima
Que imponho
Ao passo Fraturado
Deve existir Algo de tênue
Nos cacos pontiagudos Do sono ausente
Deve haver Algo de sereno
Na taquicardia Na ironia de ter sobrevivido
À minha vontade De nunca ter sido
Deve haver Algo de infinito
Nos ensaios de suicídio
|