20.7.10
BALAS SOFT
Sabem daquelas balas? Coloridas da infância? Transparentes? Perigosas? Fáceis de se engasgar com elas? Pois bem. São balas gays. Porra, eu sei. Agora eu sei. Fiquei sabendo depois que li o romance do Joca. O Terron, o Reiners. Ficou em mim essa imagem. Essa luz. Depois de lido este seu Do Fundo do Poço se Vê a Lua (publicado pela Companhia das Letras). Meu Deus! Joca é escritor para fora. Externo. Desenha como ninguém. O deserto. As caras e bocas dos personagens. Alfineta, exagera. Ironiza. Inaugura-se com ele uma geografia. Arriscada. É um grande romance o do Joca. Que eu terminei de ler. No susto. Demorei porque, confesso. Estava com medo. De não gostar. Larguei várias vezes o volume. Para pensar. No relato transsexual. Do amigo. Carrancudo. Onde ele quer chegar? Joca não quer chegar. Os parágrafos vão caminhando. Soltando areia nos olhos. Do leitor. Nostálgico. Sim. É uma história cheia de nostalgia. E de poesia. Lembro: faz tempo que conheço o Joca. Pelos idos do ano 2000. No mesmo café em que conheci o Nelson de Oliveira, o Fernando Bonassi, o Marçal Aquino... Aliás, acho que foi o Aquino quem levou lá. O poeta que era editor. Joca causou estrago com o seu selo Ciência do Acidente. Estrago, explico: revolucionário. Quantos títulos bons! E fora do eixo. Recordo: do cabra nas feiras de livro. Vendendo autores como Glauco Mattoso, Karam, Ana Elisa Ribeiro. Porra! Muita história. Vem assim, no meu juízo. Acompanho com entusiasmo a trajetória do Joca. Que escreveu, na minha opinião, um livro de contos irretocável, o Curva de Rio Sujo. Ali, quando a memória faz bem à obra. A infância no Mato Grosso. Os índios e o Rio Apa. Falo para ele: desse mergulho que ele deu. No coração das selvas. E das trevas. Agora, elas, um arco-íris. Uma lua, à vista. Soft e sofrida. E mais não digO. Corram para conferir o livro. E feliz por ter voltado a escrever aqui. Deixo a todos um beijo no umbigO. Fui.
|