3.8.10
QUASE TUDO SOBRE A FESTA
Sim, prometi dar uns esclarecimentos aqui. Falar sobre a Festa Literária Internacional de Paraty. Por que não irei desta vez. Se é que isso interessa a alguém. E interessa. O assunto foi capa da Ilustrada de sábado passado. A suposta polêmica da minha não-ida. Porra! Eu apenas comentei no Twitter. Depois de ter participado de todas as edições (como convidado ou não), resolvi não ir. Avisei por lá: que não tinha saco, assim. Para ouvir FHC falando de Gilberto Freyre, etc. Aí o assunto foi destaque no jornal. O repórter Fábio Victor me ligou. Colheu depoimentos outros. Indagou: por que nesta edição apenas um dos convidados nunca esteve no evento? A Festa será que realmente tucanou? Ave e ufa! Tanta coisa passa agora no meu juízo. Que é melhor eu abrir uns tópicos, ABAIXO. Vamos logo aos fatos e eta danado!
[01] Ninguém pode afirmar que eu não fui um dos primeiros e mais ferrenhos entusiastas da FLIP. Briguei, até, por ela. Em conversas regadas a unhadas e cervejas. Defendi a importância de um projeto deste tipo: que colocava a literatura nas ruas. Os livros dentro da paisagem. Da cidade e ave!
[02] Estive como convidado oficial no ano de 2004. E, não há dúvida, da visibilidade que a FLIP dá depois que o autor passa por lá. Ganhei novos leitores, gente que até hoje procura meus livros, acompanha meus passos e oh! Em 2006, fui convidado para mediar uma mesa. No ano passado, participei da programação da Casa de Cultura. Sem contar as vezes em que acompanhei a programação da OFF FLIP, etc.
[03] Vale lembrar - e nunca deixei de ressaltar na imprensa - que a Balada Literária, evento que criei e que acontece, anualmente, desde 2006, só foi possível porque a FLIP chegou para balançar e inovar.
[04] Mas, então, que blablablá é este? Pode nos explicar? Por que, afinal, você não irá à FLIP 2010? O que aconteceu? O escritor emputeceu? Vejamos...
[05] Em março deste ano, Claudiney Ferreira, do Itaú Cultural, me ligou para falar da vontade de levar, para Paraty, o meu projeto AuTORES EM CENA. Infelizmente, a verba não deu. Compreendi. Claudiney é parceirão de muito tempo. Saí, pois, correndo para, em cima da hora, reservar pousada, essas coisas. Na correria, ao telefone, é que me toquei. Estou mesmo indo para onde? Para ver quem? Assistir ao quê? Eu havia ligado meu desejo no "automático", entendem? Eu estava tomado pelo impulso. Uma ou outra mesa me interessava. Fui ficando estranhamente puto...
[06] Caramba! Pensei idem na FLIP do ano passado. Já nos jornais, durante a última edição, eu havia comentado. Da minha impressão: de que a FLIP estava encaretando. Eu fui o único escritor que chamou a atenção, por exemplo, para a censura velada feita ao mexicano Mário Bellatin (deu na mesma capa da Ilustrada de 2009). Comentei idem dos livros apreendidos na cidade. Assunto longo... Aí, repito: fiquei me perguntando. Por que vou mesmo este ano?
[07] Admiro o Gilberto Freyre. Já escrevi sobre ele. Tive a oportunidade de, ainda adolescente no Recife, ter conhecido pessoalmente o autor de Casa Grande & Senzala. Sem problemas com o Freyre. Mas me irritou tanta mesa sobre sociologia. E pouca prosa e pouca poesia. É bom que se diga: não sou contra a diversidade. Quanto mais tribos juntas, melhor. A Balada Literária que organizo é uma prova disto. Poetas, atores, músicos, fotógrafos. Todo mundo junto... Porém: que é chato é, refleti. Sociólogos demais, por quê? Não levei fé.
[08] O que vou eu fazer em Paraty assistindo à conferência do FHC? Por mais boa-vontade que eu tenho, não entendo a presença do ex-presidente abrindo os trabalhos da Festa. Logo ele, que nunca gostou do Freyre. Em ano de eleição? Argh! "Vai não", disse assim o meu coração.
[09] Aí fui ver a relação dos autores brasileiros. Atenção: nada contra o talento notório de amigos como Antonio Cícero, Beatriz Bracher, Chacal, Reinaldo Moraes, Ronaldo Correia de Brito, entre outros. Mas impossível não querer saber: por que, na lista, a presença apenas de um autor que nunca esteve no evento? Deu-me preguiça. Muitíssima preguiça.
[10] Acompanho o movimento da literatura brasileira, porra! E sei de tanta gente boa que poderia estar por lá. E por que não está? Só vai à FLIP, agora, o autor que tiver dinheiro para pagar, é isto? Será? Digo: só pisará em Paraty o autor que tiver alguém que patrocine? O que acontece com a Festa mais importante da nossa literatura? Hein? A FLIP está saturada? Deu enfado? A curadoria, mesmo esforçada, não consegue resistir às pressões financeiras? Ganhou ares de arrogância - e de ignorância - aprendidos com alguns dos gringos convidados? Caralho! Minha cabeça foi ficando pesada.
[11] Pensei, no ato, em vários nomes, plurais e tais, que, salvo engano (ou vai ver que alguns recusaram o convite - ou que estão numa possível lista negra, como o Marcelo Mirisola), nunca pisaram à Tenda dos Autores. A saber: Ademir Assunção, Aguinaldo Silva, Aldir Blanc, Alice Ruiz, Altair Martins, Amílcar Bettega Barbosa, Ana Paula Maia, Andréa Del Fuego, Antonio Prata, Augusto de Campos, Bráulio Tavares, Bruno Zeni, Caco Galhardo, Cadão Volpato, Carpinejar, Chico César, Clarah Averbuck, Cláudio Willer, Daniel Pellizzari, Décio Pignatari, Evandro Affonso Ferreira, Frederico Barbosa, Gilvan Lemos, Glauco Mattoso, Índigo, Ismael Caneppele, Ivana Arruda Leite, Ivan Marques, Jaguar, Jomard Muniz de Britto, João Anzanello Carrascoza, João Silvério Trevisan, Jorge Furtado, Jorge Mautner, José Castello, José Simão, Laerte, Luiz Roberto Guedes, Marcelo Carneiro da Cunha, Marcelo Montenegro, Marcelo Moutinho, Marcelo Rubens Paiva, Márcia Tiburi, Maria José Silveira, Mário Prata, Márcio Souza, Menalton Braff, Micheliny Verunschk, Michel Melamed, Miró, Nei Lopes, Nelson de Oliveira, Nicolas Behr, Paulo Scott, Ricardo Aleixo, Ricardo Silvestrin, Ronaldo Bressane, Ronaldo Cagiano, Roniwalter Jatobá, Sebastião Nunes, Sérgio Cohn, Sérgio Faraco, Sérgio Vaz (este, responsável por uma das grandes celebrações literárias, o Sarau da Cooperifa, que acontece há nove anos na periferia de São Paulo), Sidney Rocha, Vicente Franz Cecim, e ave nossa! Perdão. Sei que ainda falta, aqui, um montão de gente (sem contar os que já morreram). Que tem feito a diferença. E é, de alguma forma, posta de lado. Vocês, aí, vão me dizendo outros nomes, enfim, assado.
[12] Não tem lógica apenas argumentar que é uma questão de curadoria. Sei, sim, e compreendo que, aqui e ali, os nomes devam se repetir. Este não é o problema. O problema é a preguiça. Ou: a falta de coragem. Ou: a falta de um olhar mais renovador e generoso para muitos escritores que estão, há tempo, batalhando para que a literatura ganhe projeção. Saia da mesmice. Do casulo. Do limbo e vixe! É só o povo que organiza a FLIP dar mais uma espiada nos nomes acima (e a essa lista acrescentar outros nomes). Quanta coisa poderia ser feita! Quanta ginga! Quanta química!
[13] Tenho, repito: admiração pelo que a FLIP veio representar para a nossa "resistente" literatura. E é por ter admiração, torcer por ela e continuar resistindo que, desta vez, prefiro não ir. Em um protesto que, até então, era silencioso. E que ganhou as páginas da Folha de S. Paulo. Não me incomodo. É até saudável. Uma boa oportunidade para reflexão e discussão. De minha parte, já peguei o meu calção. Parto amanhã para Florianópolis. Vou visitar o amigo e escritor Santiago Nazarian. Acordaremos de manhã. A fim de caminhar.
[14] Fui e mais não digO. Abraços para todos. E beijos festivos no umbigO. Salve, salve, amém e saravá!
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